DIÁRIO DE HORA SILENCIOSA

Semana 36 – Quarta-feira

[2 Pedro 2.9-16]

Viver no engano do pecado já é parte do castigo que alcançará os que distorcem os assuntos celestiais (vv. 9, 10). Achando-se sábios, tornam-se grandes tolos. Atualmente, a classe artística é tida como uma espécie de casta superior por muitos intelectuais. Quem ousa questionar a qualidade de alguns absurdos chamados de arte é rotulado pelos mesmos intelectuais como leigos ignorantes. Mas eles mesmos é que deveriam se envergonhar. No entanto, é verdade que há trabalhos excelentes que não conseguimos entender ao primeiro olhar, mas que podemos vir a apreciar devidamente se tomarmos conhecimento da linguagem do artista. Não precisamos rejeitar o que não entendemos de imediato. A beleza da arte abstrata do pintor cristão Makoto Fujimura (autor do conjunto de obras “Os Quatro Santos Evangelhos”), pode passar despercebida aos olhos de um desavisado. Mas uma vez que se conhece o contexto e as técnicas aplicadas em suas obras, é praticamente impossível não se encantar. Nós nos maravilhamos como o astrônomo que examina as abstratas formações gasosas das gigantescas tempestades desenhadas por Deus nos polos do planeta Júpiter.

Vença a preguiça e use o discernimento diante da arte que você consome. Desfrute a boa arte, mas não se deixe enganar. Quem está apaixonado pelo pecado é envenenado por ele. Por meio da arte de qualidade, pode-se silenciosamente convencer outros de que o mal é bem e o bem é mal. Há algum conteúdo artístico o envenenando?

Semana 36 – Terça-feira

[Salmos 33.1-22]

Os justos são aqui convidados à produção e à expressão artística (vv. 1-3). A glória que podem render a Deus é apropriada por vir de quem O conhece por experiência e não só de ouvir falar. Mesmo de maneira involuntária, os seres humanos são capazes de glorificar a Deus em praticamente todos os campos artísticos. Sinfonias, pinturas, poesias, peças teatrais compostas e executadas por crentes e incrédulos encantam gerações e revelam o extraordinário criativo impresso por Deus no coração deles. Em Sua graça comum a todos os homens, Deus faz brilhar o sol sobre justos e injustos. Há, contudo, uma graça salvadora que é exclusivamente reservada aos que creem em Cristo. Na história da arte, algumas das pinturas mais belas e realistas já vistas (de temática cristã, inclusive) foram produzidas por homens devassos. Entre eles o boêmio Caravaggio, ícone do estilo barroco do fim do século XVI e início do século XVII, preso por assassinato. Quão maravilhoso seria se aqueles que de fato amam a Jesus se esmerassem na produção de arte que intencionalmente O glorifica. Nem todo conteúdo artístico produzido por crentes é de boa qualidade e nem todo conteúdo produzido por descrentes é de má qualidade artística (veja Isaías 10.10).

Para se apreciar e produzir arte de modo correto, é preciso discernir a raiz do que nos tem fascinado: a glória de Deus ou o prazer do pecado. Você tem algum dom de apreciação ou produção artística a ser purificado ou despertado para a glória de Deus?

Semana 36 – Segunda-feira

[Salmos 29.1-11]

Toda a criação, desde os raios e trovões, às árvores, águas e desertos, deve adorar a Deus em santo temor (vv. 2-9). Se até dos seres celestiais se requer adoração (v. 1), quanto mais nós, humanos, deveríamos adorá-lO com todas as nossas forças. Deus é o único digno de ser adorado. A adoração Lhe é devida, e Ele a requer. Mas exigir adoração exclusiva pode soar como se Deus fosse um caprichoso egoísta. Trata-se, porém, da bondosa lógica de um Deus que sabe que, se nos apontasse o coração para qualquer outro lugar, jamais seríamos satisfeitos. Se fôssemos todos automóveis movidos a gasolina, que tipo de Deus Ele seria se nos mandasse encher o tanque com as lamas de um mangue ou com as delicadas iguarias de um restaurante? Deus é o nosso combustível e demonstra Seu amor por nós nos chamando para Si, para que sejamos verdadeiramente cheios d’Ele e plenamente satisfeitos. Existimos para glorificar a Deus e desfrutá-lO para sempre. Adorá-lO é satisfazer nossa necessidade mais primária.

Como pincéis nas mãos do artista, somos chamados à uma nobre utilidade nas mãos de Deus. Muitos desperdiçam a vida dedicando-se a finalidades tolas e finitas, que jamais satisfarão um coração criado para desfrutar o Eterno. A quem ou a quê você tem rendido adoração? Parafraseando o apóstolo Paulo em Romanos 9.21, se no estojo do maior dos artistas houvesse muitos pincéis, uns para honra e outros para desonra, que tipo de pincel você seria?

Semana 35 – Domingo

[Gênesis 2.21-25][Gênesis 4.1, 2]

Durante esta semana, veremos como a Bíblia descreve aspectos da cultura humana na perspectiva de Deus. É por isso que vamos a Gênesis, que apresenta os fundamentos de doutrina e cultura já nos primeiros capítulos. Os textos de hoje apresentam uma das instituições fundamentais da sociedade: a família. O homem só poderia cumprir o mandato de Deus (1.26-28) mediante a constituição da família (1 homem + 1 mulher + x filhos). Depois da Queda, a família e a geração de filhos tomou mais uma dimensão, com a espera pela “descendência da mulher” que derrotaria o mal. Essa era a esperança de Adão e Eva ao verem que lhes nascera um menino (3.15, 20; 4.1). Assim, além de ser o meio de cumprir a ordem de Deus, a família é o primeiro meio de perpetuar o conhecimento dEle e de Sua vontade. Porém, a queda interrompeu o ciclo virtuoso de reprodução física, religiosa e cultural. Agora, a família está ameaçada pelo pecado dos cônjuges, pela pressão do mundo em redefinir casamento e família, pela omissão dos pais em suas responsabilidades, etc. Agora, cumprida a promessa de Deus de suscitar um Salvador, a família pode voltar, mesmo aos tropeços, ao ciclo virtuoso que deveria definir.

Estabelecer uma família no padrão de Deus tornou-se um ato revolucionário. A família em que você cresceu pode não ter sido assim. Porém, se Deus o chamou para constituir uma, comprometa-se a fazê-lo com a aprovação e para a glória de Deus, segundo os Seus princípios e propósitos.

Semana 35 – Sábado

[Gênesis 4.25, 26]

Volte no tempo para um pouco depois da morte de Abel. O anseio por um descendente capaz de derrotar o mal ainda pulsava em Adão e Eva. Já em Sete, vê-se um anseio por humildade no nome que ele dá a seu filho, Enos (mortal), indicando sua fraqueza e dependência como criatura. Surge, nessa linhagem, uma resposta à cultura da autoglorificação e da autogratificação (v. 26b). Isso não diz respeito só a uma religião organizada. Há momentos em que autores bíblicos intencionalmente escolhem palavras com sentido duplo, como a traduzida por “invocar”. Em outro texto, é usada da mesma forma, mas traduzida como “proclamar” (Is 61.1). Então a resposta à cultura cainita não podia ser só chamar Deus para si (religião pessoal), mas anunciá-lO a todos (missões), um confronto direto contra quem ergue o punho em desafio ao Criador. “Essa tarefa de invocar/proclamar, de exemplificar o temor e conclamar ao temor em relação a Deus surge em Gênesis e vai até o Apocalipse, passa pelo monte Sinai e pelo monte Sião, exige confrontação em Canaã e nos confins da terra…” (Carlos Osvaldo Cardoso Pinto).

Quem ousa servir a Deus inevitavelmente entrará em confronto com a cultura do homem caído, seja em casa, na igreja, no ambiente acadêmico ou profissional, no campo missionário. Entretanto, quem ousa confrontar a cultura caída com o evangelho tem o privilégio de ver, cedo ou tarde, como a graça a revoluciona e transforma, começando no indivíduo, passando para a família e, às vezes, toda uma comunidade.

Semana 35 – Sexta-feira

[Gênesis 4.19-24]

Eis Lameque, o sétimo depois de Adão na linha de Caim. (Compare-o com Enoque, o sétimo de Adão na linha de Sete. Gn 5.21-24; Hb 11.5, 6) Vê-se em Lameque como a humanidade decaíra na linha cainita pela atitude de desprezar o padrão de Deus para a família e desprezar a vida humana. Ademais, ele se gloriou no desprezo pelo que Deus preza (vv. 23, 24). Esta é outra característica que pervade as culturas humanas: a autogratificação em desafio ao padrão de Deus. Ou seja, o que importava para Lameque era satisfazer seus impulsos. Essa mentalidade lança uma sombra lúgubre sobre os aspectos de civilização e cultura em que os filhos de Lameque foram pioneiros, a saber, os meios de produção (Jabal), a arte (Jubal e possivelmente Naamá) e a tecnologia (Tubalcaim). As atividades indicadas aqui não são más – são proveitosas e necessárias. Porém, quando a serviço de uma civilização em que a autoglorificação e a autogratificação imperam, tornam-se pretexto para a depreciação da vida e todo tipo de depravação, da exploração sexual à escravidão e à guerra.

Embora a graça comum de Deus conceda inteligência e criatividade a qualquer um, o pecado sequestra e subjuga essas qualidades, podendo tornar seu produto repugnante para quem ama a Deus. É preciso sabedoria para distinguir atividade de motivação, examinar resultados e conteúdos, bem como respeitar as sensibilidades de irmãos que se escandalizam com criatividade mal direcionada. Leia Romanos 14 e reflita no que esse texto ensina.

Semana 35 – Quinta-feira

[Gênesis 4.12-17]

Nos detalhes deste texto, vemos uma característica que pervade todas as culturas humanas: a autoglorificação em desafio ao juízo de Deus. Caim saiu para cumprir sua pena com uma garantia de Deus: ele viveria para cumpri-la plenamente. Condenado a ser vagabundo, foi viver na terra da vagabundagem, da falta de rumo. (Procure o significado dos vocábulos originais para errante e Node e verá que são semelhantes, um trocadilho.) Porém, de novo Caim desafia a Deus. Tendo arranjado para si uma esposa (uma irmã ou sobrinha – as únicas opções que tinha), Caim se estabelece e funda uma cidade. “Errante uma ova!” Não só isso, apresenta tanto seu filho quanto sua cidade como um novo momento, um recomeço, um alicerce. (Procure o significado de Enoque.) Deus o tinha privado de alicerces, mas Caim decide estabelecer um por contra própria para exaltar seu próprio nome. Ele decide se estabelecer como o originador de uma civilização. Essa é a ânsia por grandeza que vemos tanto em indivíduos quanto em culturas e nações.

Observe a história, o que se diz sobre grandes conquistadores, estrategistas e líderes políticos que sacrificaram a vida dos seus subalternos para um ou outro fim. Esse espírito de Caim é tão pervasivo quanto pecaminoso. Seja no plano individual, federativo, corporativo ou cultural, a resposta do cristão é clara, e ela se encontra em Filipenses 2.3, 4 e em 1Pedro 5.5, 6. Reflita nesses textos hoje.